O Sol, não sendo Deus, deve prostrar-se todas as noites diante do Trono de Allâh; é o que se diz no Islã. Da mesma forma: Mâyâ, não sendo Atmâ, só pode se afirmar de forma intermitente; os mundos jorram da Palavra divina e voltam a ela.

A instabilidade é o preço da contingência; levantar a questão de por que haverá um fim do mundo e uma ressurreição equivale a perguntar por que uma fase respiratória se detém num momento preciso para ser seguida pela fase inversa, ou por que uma onda se retira da margem após a ter submergido, ou, ainda, por que as gotas de um jato d’água caem por terra.

Nós somos possibilidades divinas projetadas na noite da existência, e diversificadas por causa dessa própria projeção, como a água se dispersa em gotas quando é lançada no vazio e, também, como ela se cristaliza quando é tomada pelo frio.


Schuon, O Homem no Universo, “Nos rastros de Mâyâ“, Ed. Perspectiva, São Paulo, 2001, p. 132.

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