O “Sumo Bem” é a Causa primeira enquanto esta se revela pelos fenômenos que, precisamente, chamamos de “bens”; o que quer dizer que o real e o bem coincidem. São, com efeito, os fenômenos positivos que manifestam o Real supremo; não são os fenômenos negativos, privativos ou subversivos, os quais seriam manifestações do nada “se ele existisse”, e que o são sob um certo aspecto indireto e paradoxal, no sentido de que o nada corresponde a um objetivo irrealizável, mas que, não obstante, tende a se realizar. O mal é a “possibilidade do impossível”, sem a qual o Infinito não seria o Infinito; perguntar por que a Onipossibilidade engloba a possibilidade de sua própria negação – possibilidade sempre encetada de novo, mas jamais actualizada plenamente – equivale a perguntar por que a Existência é a Existência, ou por que o Ser é o Ser.
Portanto, se chamamos o Princípio supremo de Bem, Agathón, ou se dizemos que é o Sumo Bem que é o Absoluto, e portanto o Infinito, não é porque limitamos paradoxalmente o Real, mas é porque sabemos que todo bem deriva dele e o manifesta essencialmente, portanto revela sua natureza. Por certo, pode-se dizer que a Divindade está “além do bem e do mal”, mas com a condição de acrescentar que esse “além” é por sua vez um “bem”, no sentido de que ele se refere a uma Essência na qual não pode haver uma sombra de limitação ou de privação, e que, por consequência, não pode ser senão o Bem absoluto ou a Plenitude absoluta; o que pode ser talvez difícil de exprimir, mas não impossível de conceber.
A diversidade dos bens manifestados no mundo tem evidentemente sua fonte numa diversidade principial e arquetípica cuja raiz se situa no próprio Princípio supremo; trata-se aí, não somente das qualidades divinas, de que derivam nossas virtudes, mas também – sob um outro aspecto – dos aspectos da Personalidade divina, de que derivam nossas faculdades.
Schuon, Resumo de Metafísica Integral, inédito em português. Original: Résumé de Métaphysique Intégrale, Le Courrier du Livre, Paris, 1985, pp. 14-15.