Podemos nos espantar e mesmo nos escandalizar com a frequência, em ambiente religioso, de opiniões e atitudes mais ou menos ininteligentes, que se diga sem eufemismo; a causa indireta do fenômeno é que a religião, cujo objetivo é salvar o maior número possível, e não satisfazer as necessidades de explicação de uma elite intelectual, não tem motivo para se dirigir diretamente à inteligência propriamente dita. Em conformidade com sua finalidade e com a capacidade da maioria, a mensagem religiosa dirige-se globalmente à intuição, ao sentimento e à imaginação, depois à vontade, e à razão na medida em que a condição humana o exige; ela informa os homens sobre a realidade de Deus, a imortalidade da alma e as consequências que daí decorrem para o homem, e ela oferece a este os meios para se salvar. Ela não é, não quer ser e não pode ser e oferecer outra coisa, ao menos explicitamente; pois, implicitamente, ela oferece tudo.
Schuon, Résumé de métaphysique intégrale, Le Courrier du Livre, 1985, p. 81.