Há no homem dois sujeitos — ou duas subjetividades — sem medida comum e de tendências opostas, ainda que haja também coincidência sob certo aspecto. Por um lado, há a anima ou o ego empírico, que é tecido de contingências tanto subjetivas, como as lembranças e os desejos, quanto objetivas; por outro lado, há o spiritus ou a inteligência pura, cuja subjetividade está enraizada no Absoluto e que, por este fato, não vê no ego empírico senão um invólucro, portanto algo de exterior e de alheio ao verdadeiro “eu mesmo”, ou antes ao “Si mesmo” ao mesmo tempo transcendente e imanente.
Schuon, Forme et substance dans les religions, éd. L’Harmattan, 2012, p. 257.
Quando a alma reconheceu que seu verdadeiro ser está além desse núcleo fenomênico que é o ego empírito e ela se mantém de bom grado no Centro — e esta é a virtude maior, a pobreza ou o apagamento ou a humildade —, o ego comum aparece-lhe como exterior a ela própria, e o mundo, ao contrário, aparece-lhe como seu próprio prolongamento; visto que ela se sente em toda parte nas Mãos de Deus.
Schuon, La conscience de l’Absolu, éd. Hozhoni, 2016, p. 92.