As religiões não tinham escolha: a cisão, no homem comum da “idade de ferro”, entre o intelecto e uma inteligência extravertida e superficial obrigava-as a tratar os adultos como crianças, sob pena de ineficácia psicológica, moral e social. As ideologias profanas, ao contrário, tratam como adultos homens tornados quase irresponsáveis por suas paixões e suas ilusões, o que equivale a dizer que elas os incitam a brincar com fogo; é bem fácil ver os resultados sinistros disso em nossa época.

No exoterismo religioso, a eficácia assume por vezes o lugar da verdade, e com razão, dada a natureza dos homens aos quais ele se dirige; em outros termos, para o teólogo voluntarista e moralista, é verdadeiro o que dará bom resultado; para o metafísico nato, ao contrário, é eficaz o que é verdadeiro; “não há direito superior ao da verdade”. Mas nem todo mundo é um “pneumático”, e é preciso equilibrar as sociedades e salvar as almas como for possível.


Frithjof Schuon, “O pensamento: luz e perversão”,
em A Transfiguração do Homem, Sapientia, 2008, pág. 18.