O conjunto da inteligência e da vontade constitui o que poderíamos chamar de “capacidade”, seja qual for a sensibilidade moral e estética do indivíduo.

Do mesmo modo, o conjunto da sensibilidade e da vontade constitui o “caráter”, seja qual for a inteligência do indivíduo.

Do mesmo modo, ainda, o conjunto da inteligência e da sensibilidade constitui a “envergadura”, seja qual for a força de vontade do indivíduo.

Assim, a qualificação administrativa, a habilidade organizativa e a estratégia estão ligadas à dimensão psicológica que chamamos de “capacidade” mais do que somente à inteligência ou somente à vontade; a coragem e a incorruptibilidade estão ligadas ao “caráter” mais que só à vontade ou só à sensibilidade; a potente profundidade dos grandes poetas está ligada à “envergadura”, não apenas à sensibilidade ou apenas à inteligência.

Todos esses dons têm um valor condicional, não incondicional: no Paraíso, não se tem mais necessidade de habilidade, pois não há mais nada a organizar; também já não se tem necessidade de coragem, pois não há mais nenhum mal a combater; e não se tem mais necessidade do gênio, pois não há mais nada a inventar ou a produzir.

Ao contrário, ninguém poderia se privar das virtudes essenciais — piedade, humildade e caridade —, pois elas estão ligadas diretamente à própria natureza do Sumo Bem; o que quer dizer que elas fazem parte de nosso ser.


Frithjof Schuon, “Prerrogativas do estado humano”, em O Jogo das Máscaras, livro inédito em português.