Na Eucaristia, o Absoluto — ou o divino Si [1] — tornou-se Alimento; em outros casos, ele se tornou Imagem ou Ícone e, em outros ainda, tornou-se Palavra ou Fórmula: é o mistério da assimilação concreta da Divindade por meio de um símbolo propriamente sacramental: visual, auditivo ou outro.
Um desses símbolos, e mesmo o mais central, é o próprio Nome de Deus, quintessência de toda oração, seja um Nome de Deus em si ou um Nome de Deus tornado homem. [2]
Os hesicastas querem que “o coração beba o Nome a fim de que o Nome beba o coração”; portanto o coração “liquefeito”, que, por efeito da “queda”, estava “endurecido”, de onde a comparação frequente do coração profano com uma pedra. “É por causa da dureza de vosso coração que ele (Moisés) escreveu para vós este preceito”; Cristo queria criar um homem novo, por meio de seu corpo sacrificial de Homem-Deus e a partir de uma antropologia moral particular.
Especifiquemos que uma possibilidade de salvação se manifesta, não porque ela é necessariamente melhor que outra, mas porque, sendo possível, precisamente, ela não pode não se manifestar; como disse Platão, e depois dele Santo Agostinho, está na natureza do Bem querer se comunicar.
Não sem relação com o mistério da Eucaristia é o do Ícone; aqui também trata-se de uma materialização do celeste e, portanto, de uma assimilação sensível do espiritual.
Quintessencialmente, o Cristianismo comporta dois Ícones, a Santa Face e a Virgem com o Menino, o protótipo do primeiro ícone sendo o Santo Sudário e o do segundo, o
retrato de Maria pintado por São Lucas; é dessas duas fontes que brotam, simbolicamente falando, todas as outras imagens sagradas, para levar a essas cristalizações litúrgicas que são a iconostase bizantina e o retábulo gótico; é preciso mencionar também o crucifixo — pintado ou esculpido —, no qual um símbolo primordial se combina com uma imagem mais tardia.
Acrescentemos que a estatuária — estranha à Igreja do Oriente — está mais próxima da arquitetura do que da iconografia propriamente dita. [3]
[1] O Princípio Supremo, quando se faz interlocutor para o homem, entra na relatividade cósmica pelo próprio fato de sua personificação; ele nem por isso deixar de ser o Absoluto em relação ao homem, a não ser do ponto de vista do Intelecto puro.
[2] Citemos São Bernardino de Sena, grande promotor — hoje em dia esquecido — da invocação do Nome de Jesus: “Ponde o Nome de Jesus em vossas casas, em vossos quartos, e conservai-o em vossos corações.” — “A melhor inscrição do Nome de Jesus é a no coração, depois a na palavra e, por fim, a no símbolo pintado ou esculpido.” — “Tudo o que Deus criou para a salvação do mundo está oculto no Nome de Jesus: toda a Bíblia, do Gênesis até o último Livro. A razão disso é que o Nome é origem sem origem… O Nome de Jesus é tão digno de louvor quanto o próprio Deus.”
[3] O Judaísmo e o Islã, que proscrevem as imagens, as substituem de certa maneira pela caligrafia, expressão visual do discurso divino. Uma página iluminada do Alcorão, um nicho de preces ornado de arabescos são “Ícones abstratos”.
Frithjof Schuon, Raízes da Condição Humana, Kalon, 2014, pp. 97-98.