O homem se caracteriza, em primeiro lugar, por uma inteligência central ou total, não periférica ou parcial somente; em segundo lugar, por uma vontade livre, não instintiva somente; e, em terceiro lugar, por um caráter capaz de compaixão e de generosidade, não de reflexos egoístas somente.
Quanto ao animal, ele não pode conhecer aquilo que ultrapassa os sentidos, embora ele possa ser sensível ao sagrado; ele não pode escolher contrariamente a seu instinto,
embora ele possa fazer instintivamente um sacrifício; ele não pode se superar, embora uma espécie animal possa manifestar nobreza.
Do homem, pode-se dizer também que ele é essencialmente capaz de conhecer o Verdadeiro, seja absoluto ou relativo; de querer o Bem, seja essencial ou secundário; de amar o Belo, seja interior ou exterior. Em outros termos, o ser humano é substancialmente capaz de conhecer, querer e amar o Sumo Bem.
Frithjof Schuon, Raízes da Condição Humana, Kalon, 2014, p. 87. (Grifos nossos.)
Nota do editor
“Amar o Belo, interior ou exterior”. Em outros escritos, Schuon ensinou que a beleza interior é a virtude, enquanto a beleza exterior é a natureza virgem, o santuário e o ambiente numa civilização tradicional, em que todas as formas — a arquitetura, a indumentária, os utensílios, a decoração — refletem os princípios e são belas.