Página de um Alcorão do século 9º ou 10º em escrita cúfica.

Schuon, Adastra/Stella Maris, Le Sept Flèches, Suíça, 2001, p. 94.
Veja o poema original alemão ao final desta nota.


Sânscrito: Isha Upanishad, versos 1–2, parcialmente 3.

Há, com efeito, períodos em que uma linguagem muda sob a influência de fatores étnicos ou religiosos novos: o latim de César e de Cícero não mais correspondia à mentalidade da Itália cristianizada e em parte germanizada; ele tinha, portanto, o direito de evoluir. Em nossos dias, ao contrário, enfeita-se com o título de “evolução” a degenerescência pura e simples, e não somente esta, mas também a destruição deliberada, ardorosa e grosseira da linguagem.

Seja como for, no curso normal das coisas, após períodos de evolução natural e legítima, vêm longos períodos de estabilização e de estabilidade; a salvaguarda do patrimônio adquirido sendo função sobretudo da aristocracia, e evidentemente também — e mesmo acima de tudo — do sacerdócio, o qual, sendo o guardião da religião, é igualmente, e por isso mesmo, o da dignidade do homem e da linguagem.

(…)

a linguagem humana em si é, por definição, algo sagrado; assim, é uma verdadeira prevaricação negligenciá-la e mesmo lançá-la no precipício, como se faz alegremente nos dias de hoje. Um dos primeiros deveres do homem é falar e escrever corretamente, de maneira nobre, mantendo sempre o olhar fixo na tradição, a qual representa e canaliza a origem divina; mesmo as línguas profanas, que são as nossas, preservaram em si esse elemento essencial — e, no fundo, natural ao homem — que é a dignidade.

Schuon, “Sobre a arte da tradução”, Ter um Centro, Polar, 2018. Grifos do editor.

O Livro de Kells (Bookd of Kells).

Gott hat dem Menschen edles Wort gegeben
Auf dass er es gebrauche und bewahre
In Wahrheit und in Würde alle Jahre —
Durchleuchtend und verschönernd unser Leben.

Bleibt auf der Höhe dieser Gottesgabe!
Mit Sprachverderbnis bleibet stets in Fehde;
Ihr könnt nichts Bessres, Edleres ersinnen
Als Meister Eckharts und als Dantes Rede.

Die Sprache ist der Seele Lebensblut —
Zusammen mit dem Geist das höchste Gut!

Schuon, Adastra/Stella Maris, Le Sept Flèches, Suíça, 2001, p. 94.