Assim como há um discernimento das realidades principiais, o qual se impõe a nós porque temos uma inteligência, da mesma forma há um discernimento das realidades formais — tanto morais quanto estéticas —, o qual se impõe porque temos uma alma. Isto quer dizer que a compreensão metafísica deve se acompanhar do senso da beleza em todos os níveis; inversamente, não há interiorização do belo sem um conhecimento metafísico paralelo. “A beleza é o esplendor do verdadeiro”: o que implica que a verdade, portanto a realidade, é a essência da beleza.
A coincidência ontológica entre o verdadeiro e o belo evoca a questão de saber “por que” uma coisa é julgada bela; segundo os subjetivistas, ela é bela porque nos agrada — o que é absurdo —, enquanto que, na realidade, ela agrada ao homem inteligente e normal porque ela é bela, o que, contudo, não responde à questão de saber em que consiste concretamente a beleza. De resto, é preciso saber o que constitui não somente a beleza como tal, mas também tal ou qual beleza; o que quer dizer que toda coisa harmoniosa e positivamente expressiva é bela ao mesmo tempo sob um aspecto geral e sob um aspecto particular.
De maneira geral, toda coisa bela nos comunica a beleza em si, ou seja, a Harmonia — ou a Beatitude — do Sumo Bem; ao mesmo tempo e de uma maneira particular, ela transmite essa Harmonia segundo um determinado aspecto ou em determinada ordem de contingência, e isto necessariamente, pois o efeito não poderia possuir a essencialidade ou a integralidade da causa.
(…) A beleza tem algo de apaziguador e de dilatante, de consolador e de liberador, porque ela comunica uma substância de verdade, de evidência e de certeza, e ela o faz em modo concreto e existencial.
Frithjof Schuon, Le Jeu des Masques, l’Age d’Homme, 1992, pp. 67-68.