Shrî Anandamayi Ma (1896-1982), santa hindu dos tempos recentes.

Há almas que, plena ou suficientemente conformes à vocação humana, entram diretamente no Paraíso: são quer os santos, quer os santificados. No primeiro caso, são as grandes almas iluminadas pelo Sol divino e dispensadoras de raios benfazejos; no segundo caso, são as almas que, não tendo nem defeitos de caráter, nem tendências mundanas, estão livres — ou foram libertadas — de pecados mortais, e santificadas pela ação sobrenatural de meios de graça de que elas fizeram seu viático. Entre os santos e os santificados há sem dúvida possibilidades intermediárias, mas só Deus é juiz de sua posição e de seu nível.

Contudo, entre os santificados — os salvos pela santificação ao mesmo tempo natural e sobrenatural [1] —, há os que não são suficientemente perfeitos para poder entrar diretamente no Paraíso; eles esperarão sua maturidade num lugar que os teólogos chamaram de “prisão honorável”, mas que, na opinião dos Amidistas, é mais que isso, pois, dizem eles, esse lugar se situa no próprio Paraíso; eles o comparam a um botão de lótus dourado, o qual se abre quando a alma está madura. Esse estado corresponde ao “limbo dos patriarcas” (limbus = “orla”) da doutrina católica: os justos da “Antiga Aliança”, segundo esta perspectiva muito particular, nele se encontravam antes da “descida aos infernos” do Cristo-Salvador [2]; concepção antes de tudo simbólica e muito simplificadora; mas perfeitamente adequada quanto ao princípio, e mesmo literalmente verdadeira em casos que não temos de definir aqui, dada a complexidade do problema.

[1] Isto não é uma contradição, pois a natureza específica do homem comporta por definição elementos disponíveis de sobrenaturalidade.

[2] É neste local que Dante coloca de facto — tudo bem considerado — os sábios e os herois da Antiguidade, ainda que ele os associe ao Inferno, por razões de teologia, dado que foram “pagãos”.


Frithjof Schuon, “Escatalogia universal”, ensaio publicado neste website.