Pintura de Schuon.

Rigorosamente falando, há uma só filosofia, a Sophia Perennis; ela é também — considerada em sua integralidade — a única religião. A Sophia tem duas origens possíveis, uma intemporal e uma temporal: a primeira é “vertical” e descontínua, e a segunda, “horizontal” e contínua; dito de outro modo, a primeira é como a chuva que pode descer do céu a todo momento; a segunda é como um ribeiro que brota de uma fonte.

Os dois modos se encontram e se combinam: a Revelação metafísica actualiza [1] a faculdade intelectiva, e esta, uma vez despertada, dá lugar à intelecção espontânea e independente. A dialética da Sophia Perennis é “descritiva”, não “silogística”, ou seja, as afirmações não são produto de uma “prova” real ou imaginária, ainda que possam utilizar provas — reais, neste caso — a título de “ilustração” e numa preocupação de clareza e de inteligibilidade. Mas a linguagem da Sophia é antes de tudo o simbolismo sob todas as suas formas: por isso, a abertura à mensagem dos símbolos é um dom próprio do homem primordial, e de seus herdeiros de todas as épocas; Spiritus ubi vult spirat. [2]

Um dos paradoxos de nossa época é que o esoterismo, discreto pela força das coisas, vê-se na obrigação de afirmar-se à luz do dia, pela simples razão de que não há outro remédio para as confusões de nosso tempo. Pois, como dizem os cabalistas, “mais vale divulgar a Sabedoria do que esquecê-la.”

Notas
[1] Grafamos a palavra em português com “c” para indicar que não tem o sentido de “modernizar”, mas o de “passagem da potência ao ato”. [2] “O Espírito sopra onde quer”. (Notas do editor).


Frithjof Schuon, A Transfiguração do Homem, Sapientia, 2008, p.20 — livro disponível neste website.