Que sejamos conformes a Deus — “feitos à sua imagem” — é certo, sem o que nós não existiríamos. Que sejamos contrários a Deus é também certo, sem o que nós não seríamos diferentes.
Sem analogia com Deus, nós não seríamos nada. Sem oposição a Deus, nós seríamos Deus.
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A separação entre o homem e Deus é absoluta e relativa ao mesmo tempo: se ela não fosse absoluta, o homem enquanto tal seria Deus; se ela não fosse relativa, não haveria nenhum contato possível entre o humano e o Divino, e o homem seria ateu por definição ontológica, portanto irremediavelmente.
A separação é absoluta porque só Deus é real, e porque não há continuidade possível entre o nada e a Realidade; mas a separação é relativa — ou melhor, “não absoluta” — porque nada existe fora de Deus.
Em certo sentido, poder-se-ia dizer que essa separação é absoluta do homem a Deus, e relativa de Deus ao homem.
Frithjof Schuon, Perspectives spirituelles et faits humains, Les Cahiers du Sud, Paris, 1953, pp. 216-217.