É natural e plausível que toda aspiração elevada exija uma qualificação correspondente, na própria medida em que ela incita o homem a se superar. A aptidão espiritual proporcional à gnose exige, para ser completa, não somente uma qualificação intelectual, que é a capacidade de discernimento, de penetração e de aprofundamento, mas também uma qualificação moral, que é a tendência à interiorização e que implica as virtudes fundamentais.

No esoterismo concreto, o dos Sufis, por exemplo, não constatamos em parte alguma uma predominância da exigência intelectual sobre a exigência moral, muito ao contrário: a contemplatividade interiorizante acompanhada das virtudes tem, em média, mais peso do que a inteligência discriminativa.

Outra constatação, talvez inesperada, é a seguinte: o que fecha a maior parte das almas ao esoterismo sapiencial é, não tanto uma limitação intelectual — que, precisamente, encontramos também no seio do esoterismo mais fervoroso —, quanto uma certa vontade de não compreender, a qual resulta do individualismo e, por consequência, do apego ao domínio das formas, em relação à qual a pessoa é interdependente, e muito frequentemente, também, de uma tendência passional à exterioridade e à atividade dispersante; de onde uma espécie de instinto de conservação mal inspirado e um “nacionalismo do humano” refratário a todo “excesso de objetividade”, se assim podemos dizer, tudo isso combinado com os hábitos de certo meio, a necessidade de conforto psicológico, o desejo de um equilíbrio tranquilizador, quando não sempre fácil.

Mas há ainda outra coisa: Deus não escolhe todo homem para a sapiência, e, sem contestação possível, vale mais ser um santo intelectualmente pouco dotado e ignorante do que um metafísico humanamente medíocre e, por consequência, desprovido de santidade. Em suma, o que queremos sublinhar aqui é que o gênero humano não se divide em dois campos, um que é intelectualmente qualificado e outro que não é, e que não é só a desqualificação intelectual — acidental ou profunda — que pode fechar o acesso à gnose. Se se deve estabelecer uma distinção fundamental entre os homens, é antes de tudo entre os mundanos e os espirituais que seria preciso distinguir.


Frithjof Schuon, “O problema das qualificações”, em Logique et Transcendance [Lógica e Transcendência], Éditions Traditionnelles, Paris, 1982, pp.193-194. Tradução direto do original para esta publicação.