“Concretamente, a pátria é, não necessariamente um Estado, mas a terra, ou a paisagem, onde se nasceu, e o povo ou o grupo étnico ou cultural ao qual se pertence; não é senão natural que o homem ame sua ambiência de origem, assim como é natural, nas condições normais, que o homem ame seus pais ou que os esposos se amem reciprocamente e amem seus filhos; e não é menos natural que todo homem contribua, segundo sua função e seus meios, à defesa de seu país ou de seu povo quando eles são atacados.”
“O caráter sagrado de uma nação depende, não da santidade de seus cidadãos, isto é bem evidente, mas da integralidade tradicional de seu regime; o que torna impossível identificar um Estado laico a uma ‘Terra Santa’ é precisamente o caráter confessionalmente ‘neutro’, portanto heteróclito e profano, da civilização moderna. Há duas idolatrias que são incompatíveis com o caráter sagrado de uma nação: por um lado o civilizacionismo e, por outro, o nacionalismo…”
“O patriotismo profano misturado indevidamente à religião é um luxo tanto mais inútil quanto toma o lugar do patriotismo normal, e tanto mais pernicioso quanto arruina o prestígio da religião.”
“Erige-se a pátria-nação como valor transcendente, e pisoteia-se eventualmente o sentimento patriótico dos outros, ao mesmo tempo em que se exige deles, se necessário, uma lealdade sem mácula; desprezam-se os povos estrangeiros e gostar-se-ia de ser amado por eles.”
“O que censuramos aos patriotas xenófobos, certamente não é o estarem conscientes dos valores reais de sua pátria, mas o serem cegos para os valores de alguns outros países — é uma questão de interesse político e sentimental — e mesmo para os direitos elementares de outros povos.”
“Cristo não se preocupou senão da Pátria celeste, que ‘não é deste mundo’; isto basta, não para negar o fato natural de uma pátria terrestre, mas para se abster de todo culto abusivo — e antes de tudo ilógico — do país de origem.”
“O patriotismo natural é ao mesmo tempo determinado e limitado pelos valores eternos; ele ‘não se incha’ e não perverte o espírito; ele não é, como a xenofobia, o esquecimento oficial da humildade e da caridade, ao mesmo tempo que a anestesia de toda uma parte da inteligência; permanecendo em seus limites, ele é capaz de suscitar as mais belas virtudes sem ser um parasita da religião.”
Frithjof Schuon, “Usurpações do Sentimento Religioso”, in A Transfiguração do Homem, Sapientia, 2009.