Seção de imagem ortodoxa de São Jorge matando o dragão. Veja a imagem inteira abaixo.

A via espiritual engloba todos os acontecimentos da vida; não há nada que não esteja relacionado a ela de alguma maneira. As provações [*] da vida são, não perturbações desprovidas de sentido, mas aspectos quer de nós mesmos, quer da Realidade, portanto elementos necessários e inevitáveis da via. Para fazê-las dar frutos, é preciso aceitá-las como vindo da parte de Deus: com gratidão e louvor. É só assim que o homem pode esperar comprender o sentido da provação ou, quando se trata de uma situação aparentemente sem saída, esperar poder se livrar dela, se Deus quiser.

Mesmo as distrações, na medida em que uma ambiência inevitável no-las impõe, devem ser aceitas, não como obstáculos ou incômodos que nos chegam por acaso e dos quais devemos nos queixar, mas como provações enviadas por Deus; devemos integrá-las em nossa vida espiritual e tirar delas o melhor proveito.

Uma espiritualidade verdadeira não pretende situar-se, como um objeto de luxo, à margem das afrontas da vida, pois ela não a considera [a vida] de uma maneira egoísta e profana; todo acontecimento é um bem enquanto vindo de Deus, e todo mal como tal vem da natureza humana; isso quer dizer que, para o contemplativo, os fatos não têm como não ter um sentido espiritual.

[*] Épreuve, em francês, significa tanto “provação” como “prova”, o que deixa bem claro que toda provação é uma prova a ser superada, como Schuon explica no belíssimo ensaio “Provações e Felicidade”, no livro Resumo de Metafísica Integral (inédito em português).


Frithjof Schuon, carta de 18 de julho de 1951 a um correspondente sufí. Extraída de Vers l’Essentiel – Lettres d’un Maître spirituel, Editions Les Sept Flèches, Lausanne, 2013, pp. 95-96.