Desde a minha infância, sempre gostei muito dos museus, e pude passar horas assimilando visualmente as mensagens dos diversos mundos tradicionais. A assimilação visual, no meu caso, veio antes da assimilação conceitual; e não penso somente na arte sacra, penso também no artesanato, incluindo o mais modesto, pois acontece de ele veicular tanta espiritualidade quanto a arte sacra propriamente dita.
O homem é “feito à imagem de Deus”: portanto, eu sempre me interessei pelo homem, pelas raças, pelas castas, pelos tipos astrológicos e outros, pelas vestimentas, pelas artes; pelas religiões e pelas sabedorias, evidentemente, mas estas são tanto do domínio humano quanto do do divino; o conhecimento do Céu não é a priori função do conhecimento da terra, é antes o inverso que se dá. Eu me interessei pelo homem, mas não em primeiro lugar; há uma fenomenologia universal da qual o homem não é mais que o centro, mas não necessariamente a chave.
Um dos fenômenos meio-humanos, meio-divinos que mais me fascinaram, desde a minha infância, é a mudrâ; aquela em que a mão está vertical, o polegar tocando o dedo médio de forma a formarem um círculo, o dedo anular estando inclinado pela metade, os dois outros dedos estando quase verticais; mudrâ-síntese que parece apresentar uma pérola, uma joia, um cintâmani, um elixir; mudrâ que ensina, que comunica, não por meio da palavra, está claro, mas por um gesto divino ou nirvânico, precisamente. Um gesto que parece extrair — ou ter extraído — o que há de mais precioso, de mais diretamente salvador, de uma Mensagem complexa; o que leva a pensar nesta outra mudrâ que foi, no caso do Buda, o “sermão da flor”.
Frithjof Schuon, carta de 9 de junho de 1982 a um correspondente budista. Extraída de Vers l’Essentiel – Lettres d’un Maître spirituel, Editions Les Sept Flèches, Lausanne, 2013, p. 173.