O Profeta disse: “Guardai-vos das suspeitas, pois o diabo quer causar discórdia entre vós”, ou algo do tipo. Nunca se deve ficar ruminando as coisas, nem que seja porque o ininteligível ou o absurdo faz parte da matéria da qual o mundo é feito. Em face de alguma dificuldade aparentemente insolúvel, há que se dizer a si mesmo: em primeiro lugar, toda coisa, todo acontecimento tem uma causa, quer a conheçamos ou não; o fato de não a conhecermos não deduz nada dela e nada lhe acrescenta. Em segundo lugar: esta causa é indiferente diante da verdade de que Deus é a Realidade; o que é, é, e o que não é, não é.
O ser humano às vezes se deixa vencer pela amargura, porque permitiu que a possibilidade correspondente — a da sobriedade espiritual — fosse totalmente suprimida de seus sonhos e prazeres; mas quem age com magnanimidade para com seus semelhantes e, ao mesmo tempo, mantém certa frieza em face do mundo — uma espécie de previsão antecipada de toda desilusão, um pré-conhecimento do nada de tudo o que é terrestre, uma recusa de sonhar — não será tomado de surpresa por alguma amargura inesperada que surja, e não será espoliado do bem insubstituível do amor. Conhece o homem e conhece a ti mesmo; só Deus é bom.
Schuon, Meditações de Viagem, texto publicado neste website.