O homem primordial sabia por si mesmo que Deus existe; o homem caído não o sabe, é algo que ele tem que aprender. O homem primordial tinha sempre consciência de Deus; o homem caído, apesar de ter aprendido que Deus existe, deve se forçar a ter sempre consciência dele. O homem primordial amava Deus mais que o mundo; o homem caído ama o mundo mais que Deus, ele deve portanto praticar a renúncia.
O homem primordial via Deus em toda parte, tinha o senso dos arquétipos e das essências e não estava fechado na alternativa “carne ou espírito”; o homem caído não vê Deus em parte alguma, ele só vê o mundo enquanto tal, não como manifestação de Deus.
A primordialidade é a fitrah dos sufis: a natureza humana essencial e normativa, criada à imagem do Criador; por isso mesmo, ela é a inteligência em si, projeção da consciência divina. Pois “Eu era um tesouro escondido e quis ser conhecido, portanto criei o mundo” * ; e com ele o espírito humano.
* Hadîth qûdsi, ou seja, uma sentença dita por Deus pela boca do Profeta (nota do editor).
Schuon, Raízes da Condição Humana, livro disponível neste website, pp. 27-28.