O Matterhorn, nos Alpes (foto de Liridon, Wikimedia Commons).

No plano exterior e portanto contingente, mas que tem sua importância na ordem humana, a religio perennis está em relação com a natureza virgem e ao mesmo tempo com a nudez primordial, a nudez da criação, do nascimento, da ressurreição, ou a do grande sacerdote no Santo-dos-Santos, a do eremita no deserto, do sadhu ou sanyâsi hindu, a do pele-vermelha em prece silenciosa no alto de uma montanha.

A natureza inviolada é ao mesmo tempo um vestígio do Paraíso terrestre e uma prefiguração do Paraíso celeste; os santuários e os costumes diferem, mas a natureza virgem e o corpo humano permanecem fiéis à unidade primeira.

A arte sacra, que parece afastar-se essa unidade, não faz, no fundo, senão restituir aos fenômenos naturais suas mensagens divinas, às quais os homens tornaram-se insensíveis; na arte, a perspectiva do amor tende para o transbordamento, para a profusão, enquanto que a perspectiva da gnose tende para a natureza, para a simplicidade e o silêncio; é a oposição entre a riqueza gótica e o despojamento do Zen.

Mas isto não nos deve fazer perder de vista que as molduras ou modos exteriores são sempre contingentes, e que todas as combinações e todas as compensações são possíveis, tanto mais que, na espiritualidade, todas as possiblidades podem refletir-se umas nas outras, segundo as modalidades apropriadas.


Frithjof Schuon, “Religio perennis“, ensaio publicado neste website.