Dignidade não é orgulho. New Chest, Piegan (foto: Edward Curtis).

Todo homem ama estar à luz e ao ar fresco; ninguém gosta de estar preso numa torre sombria e sem ar; é assim que é preciso amar as virtudes, e é assim que é preciso detestar os vícios. Nenhum homem que pode desfrutar da luz e do ar pensaria em proclamar “o sol sou eu” ou “o céu sou eu”; amamos a ambiência da luz e do ar, e é por isso que entramos nela. É assim que é preciso entrar nas virtudes: porque elas se impõem por sua natureza e porque amamos sua ambiência.

O orgulhoso a quem se censura um defeito ou o nega, ou o minimiza, reivindicando-o ao mesmo tempo com um individualismo cínico, dizendo “mas é assim que eu sou”; o que no fundo é diabólico, pois só Deus tem o direito de dizer: “Eu sou aquele que Eu sou.” O orgulhoso ou nega seus defeitos, ou se orgulha deles; o corolário dessa atitude é que ele exagera os defeitos dos outros, ou mesmo que ele projeta seus próprios defeitos — desta vez sem os minimizar — nos outros, incluíndo aqueles que não têm nenhum sinal deles, ou mesmo sobretudo nestes, por uma espécie de vingança.

O humilde, ao contrário, não crê ter direito a um defeito e, com mais forte razão, não crê ter defeitos interessantes e dignos de apreciação. O humilde prefere ser um mendigo à luz e ao ar fresco a ser um rei numa torre escura e sem ar; e não lhe passa pela cabeça dizer nem que sua escuridão é luz, nem que a luz é ele. Por certo, o orgulhoso pode ter qualidades naturais; mas não se deve nunca desculpar o orgulho por causa de tais qualidades; pois o homem não tem o direito de gostar do que Deus não poderia aceitar.


Schuon, “O anonimato das virtudes“, ensaio publicado neste website.