Se a fé no sentido comum do termo é considerada como uma virtude, o que mostra que ela não é algo intelectual, é evidente que a certeza implicada por um conhecimento, dado que ela traz em seu fruto em si mesma, não poderia ser meritória, assim como não é meritória nenhuma evidência adquirida pelas faculdades sensíveis; mas isto não priva de forma nenhuma o Conhecimento de sua qualidade “paraclética”, purificadora e verdadeiramente “redentora”, ideia que, aliás, está contida na concepção da “fé que salva”.
Em todo caso, a perspectiva exotérica, que é essencialmente moral, vê necessariamente uma espécie de mérito na fé, independentemente da graça; e o que confere à fé seu caráter seu caráter meritório e seu valor moral é precisamente a ausência pressuposta de uma razão objetiva suficiente, pois é virtuoso crer no que não se vê [*], enquanto que o conhecimento, ao contrário, é por si mesmo sua própria razão de ser.
[*] O palavra evangélica “Felizes os que creram sem ver” se refere à disposição fundamental da alma contemplativa para admitir a priori o sobrenatural.
Frithjof Schuon, “Iman, Islam, Ihsan”, em L’Oeil du Coeur [O Olho do Coração], Dervy-Livres, Paris, 1974, p. 92