O Confucionismo reparte os homens em governantes e governados: dos primeiros ele exige o senso do dever, e dos segundos, a piedade filial. Vê-se aqui que a lei social não se destaca do sentido espiritual da revelação inteira: ela tem necessariamente concomitâncias espirituais que dizem respeito ao homem enquanto tal, ou seja, considerado independentemente da sociedade. Todo homem, com efeito, governa ou determina algo que está colocado, de alguma maneira, sob sua dependência, nem que seja apenas sua própria alma feita de imagens e de desejos; por outro lado, todo homem é governado ou determinado por alguma coisa que o supera de alguma maneira, nem que seja somente seu intelecto.
Assim, cada um traz em si a dupla obrigação do dever em relação ao inferior e da piedade em relação ao superior, e esse duplo princípio é suscetível de aplicações incalculáveis: ele engloba até mesmo a natureza inanimada, no sentido de que toda coisa pode desempenhar o papel, em relação a nós e conforme o caso, seja de princípio celeste, seja de substância terrestre.
A sabedoria chinesa prevê uma aplicação em primeiro lugar social, depois pessoal, do par universal “Céu-Terra” (Tien-Ti), e com isso uma conformidade ao “Inefável” (Wu-Ming) do qual ele procede. O ponto de junção entre o Confucionismo e o Taoísmo está nas virtudes, das quais o primeiro considerará o valor social e humano, e o segundo, a qualidade intrínseca e espiritual. O homem é o lugar em que a Terra e o Céu se encontram.
O egoísmo deve se extinguir entre a devoção e o dever.
Frithjof Schuon, Perspectives spirituelles et faits humains (Perspectivas Espirituais e Fatos Humanos], Cahiers du Sud, Paris, 1953, pp. 80-81.