e a mensagem da Filosofia Perene

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O homem que ama a Deus vive no Interior

O homem que “ama a Deus” é aquele que “vive no Interior” e “para o Interior”, ou seja, que se mantém imóvel em sua interioridade contemplativa — seu “ser”, se se quiser —, ao mesmo tempo em que se move em direção a seu Centro infinito. A imobilidade espiritual se opõe aqui ao movimento indefinido dos fenômenos externos, enquanto o movimento espiritual se opõe ao contrário à inércia natural da alma caída, ao “endurecimento do coração” que a “graça” e o “amor” devem curar, ou seja, cujo remédio é tudo o que suaviza, transmuta e transcende o ego.


Schuon, Logique et transcendance,
Éditions Traditionnelles, France, 1982, p. 210.

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A única coisa que se impõe

Anandamayi Ma, santa hindu (1896-1982).

Eu sou eu mesmo e não um outro; e estou aqui, tal como sou; e isso se passa agora, necessariamente. Que devo fazer? A primeira coisa que se impõe, e a única que se impõe de uma maneira absoluta, é minha relação com Deus. Eu me recordo de Deus, e nesta recordação, e por ela, tudo está bem, porque é a recordação de Deus. Todo o resto está em Suas Mãos.


Frithjof Schuon, Les Perles du Pèlerin, Seuil, 1990, p.34.

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A resposta mais decisiva à questão da predestinação

A vida de um homem — assim como seu ciclo total de existência, do qual a vida terrestre e a condição humana são somente modalidades — está contida no Intelecto divino como um todo finito, ou seja, como uma possibilidade determinada que é o que ela é e consequentemente não pode deixar de ser si mesma em nenhum de seus aspectos. Pois uma possibilidade de existência não é senão uma expressão da absoluta necessidade do Ser, e é daí que vêm sua unidade exterior e sua homogeneidade interior: uma possibilidade de existência é algo que não tem como não ser.

Os dois grandes momentos

Santa Bernadette de Lourdes (1844-1879).

Há dois momentos na vida que são tudo, e são o momento presente, em que estamos livres para escolher o que queremos ser, e o momento da morte, em que não temos mais nenhuma escolha e em que a decisão cabe a Deus. Ora, se o momento presente é bom, a morte será boa; se estamos agora com Deus — neste presente que se renova sem cessar, mas que continua sendo sempre este momento atual único —, Deus estará conosco no momento de nossa morte. A lembrança de Deus é uma morte na vida; ela será uma vida na morte.


Frithjof Schuon, Les Perles du Pèlerin, Seuil, 1989, p. 61.

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O ícone transmite uma força beatífica que lhe é inerente

Nossa Senhora de Czestochowa.

A maior parte dos modernos que creem compreender a arte está convencida de que a arte bizantina ou românica não têm nenhuma superioridade em relação à arte moderna, e que uma Virgem bizantina ou românica não se parece mais com Maria que as imagens naturalistas, ao contrário; a resposta é, no entanto, fácil: a Virgem bizantina — que tradicionalmente remonta a São Lucas e aos Anjos — está infinitamente mais próxima da verdade de Maria do que a imagem naturalista, que é sempre, necessariamente, a imagem de outra mulher, pois das duas uma: ou se apresenta uma imagem da Virgem absolutamente semelhante do ponto de vista físico, mas então é preciso que o pintor tenha visto a Virgem, condição que evidentemente não poderia ser satisfeita — fazendo-se abstração de que a pintura naturalista é ilegítima —, ou se apresenta um símbolo perfeitamente adequado da Virgem, mas então a questão da semelhança física, sem estar absolutamente excluída de fato, não se coloca mais de modo algum.

Adormecimento do ego e vigília da alma imortal

Mulay ‘Ali ad-Darqawi, mestre marroquino, na década de 1930. Foto de Titus Burckhardt.

A santidade é o adormecimento do ego e a vigília da alma imortal — do ego nutrido de impressões sensoriais e cheio de desejos, e da alma livre, cristalizada em Deus. A superfície movente de nosso ser deve dormir e por consequência se retirar das imagens e dos instintos, enquanto o fundo de nosso ser deve velar na consciência do divino e assim iluminar, como uma chama imóvel, o silêncio do santo sono.

Schuon, Pérolas do Peregrino.

Só há uma questão: nossa relação com Deus

Sitting Bull, Sioux, com o cachimbo sagrado (1877).

A única questão que se coloca é nossa relação com Deus. Nunca se perguntar “Qual é meu valor?”, nem: “Sou digno de ter uma relação com Deus?” Pois, em primeiro lugar, a questão de nosso valor não se coloca; só conta nossa relação sincera com Deus, e fora dela não há valor humano decisivo.

A nobreza da sexualidade deriva de seu Protótipo divino

Manjuvajra abraçando sua consorte, com lamas auxiliares. Séc. 13. Metropolitan Museum of Art.

Se a moral muçulmana difere da cristã — e não é de forma nenhuma o caso no que diz respeito à Guerra Santa, nem à escravidão, mas unicamente no que tange à poligamia e ao divórcio [*] —, é porque ela está ligada a um outro aspecto da Verdade total: o Cristianismo, aliás como o Budismo, só leva em conta na sexualidade o lado carnal, portanto substancial ou quantitativo; o Islã, ao contrário, como o Judaísmo e as tradições hindu e chinesa — não falamos de certas vias espirituais que rejeitam o amor sexual por razões de método —, leva em conta, na sexualidade, o lado essencial ou qualitativo, poderíamos dizer “cósmico”, e, de fato, a santificação da sexualidade confere a ela uma qualidade que supera seu caráter carnal e o neutraliza, ou em certos casos até mesmo o abole, como no das Cassandras e Sibilas da Antiguidade ou no do Shrî Chakra tântrico, e enfim no dos grandes espirituais, entre os quais convém citar Salomão e Mohammed.

No homem, a Terra e o Céu se encontram

Erudito visita templo taoísta nas profundezas das montanhas.

O Confucionismo reparte os homens em governantes e governados: dos primeiros ele exige o senso do dever, e dos segundos, a piedade filial. Vê-se aqui que a lei social não se destaca do sentido espiritual da revelação inteira: ela tem necessariamente concomitâncias espirituais que dizem respeito ao homem enquanto tal, ou seja, considerado independentemente da sociedade. Todo homem, com efeito, governa ou determina algo que está colocado, de alguma maneira, sob sua dependência, nem que seja apenas sua própria alma feita de imagens e de desejos; por outro lado, todo homem é governado ou determinado por alguma coisa que o supera de alguma maneira, nem que seja somente seu intelecto.

O conhecimento é também purificador e redentor

Ilustração: manuscrito de tradução de texto de Hermes Trismegistus feita por Marsilio Ficino.

Se a fé no sentido comum do termo é considerada como uma virtude, o que mostra que ela não é algo intelectual, é evidente que a certeza implicada por um conhecimento, dado que ela traz em seu fruto em si mesma, não poderia ser meritória, assim como não é meritória nenhuma evidência adquirida pelas faculdades sensíveis; mas isto não priva de forma nenhuma o Conhecimento de sua qualidade “paraclética”, purificadora e verdadeiramente “redentora”, ideia que, aliás, está contida na concepção da “fé que salva”.

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