e a mensagem da Filosofia Perene

Autor: Editor

Ninguém pode se privar das virtudes essenciais

O conjunto da inteligência e da vontade constitui o que poderíamos chamar de “capacidade”, seja qual for a sensibilidade moral e estética do indivíduo.

Do mesmo modo, o conjunto da sensibilidade e da vontade constitui o “caráter”, seja qual for a inteligência do indivíduo.

Do mesmo modo, ainda, o conjunto da inteligência e da sensibilidade constitui a “envergadura”, seja qual for a força de vontade do indivíduo.

“Não desculpar o indesculpável”

A partir de um certo grau de perversão, não há mais circunstâncias atenuantes, precisamente porque esse grau abole aquelas que poderia haver. Não há jamais nenhuma desculpa para o elemento satânico, e procurar uma desculpa provém desse mesmo elemento; desculpar a infâmia é gravíssimo.

E é importante saber que o homem que se tornou perverso carrega sempre a total responsabilidade por sua baixeza ou sua decadência; o que quer dizer: a infâmia de um não pode nunca ser culpa de outros. Um trauma tem limites que permitem desculpas; a infâmia supera esses limites.

Para o metafísico, é eficaz o que é verdadeiro

As religiões não tinham escolha: a cisão, no homem comum da “idade de ferro”, entre o intelecto e uma inteligência extravertida e superficial obrigava-as a tratar os adultos como crianças, sob pena de ineficácia psicológica, moral e social. As ideologias profanas, ao contrário, tratam como adultos homens tornados quase irresponsáveis por suas paixões e suas ilusões, o que equivale a dizer que elas os incitam a brincar com fogo; é bem fácil ver os resultados sinistros disso em nossa época.

No exoterismo religioso, a eficácia assume por vezes o lugar da verdade, e com razão, dada a natureza dos homens aos quais ele se dirige; em outros termos, para o teólogo voluntarista e moralista, é verdadeiro o que dará bom resultado; para o metafísico nato, ao contrário, é eficaz o que é verdadeiro; “não há direito superior ao da verdade”. Mas nem todo mundo é um “pneumático”, e é preciso equilibrar as sociedades e salvar as almas como for possível.


Frithjof Schuon, “O pensamento: luz e perversão”,
em A Transfiguração do Homem, Sapientia, 2008, pág. 18.

Uma intenção pode ser ao mesmo tempo boa e má?

“Não são as ações que importam em primeiro lugar, são as intenções, nos diz tanto a sabedoria tradicional quanto o senso comum; muito bem, mas é evidente que isso não poderia significar, como alguns imaginam, que se possa desculpar toda ação imperfeita, ou mesmo má, supondo que a intenção foi boa ou mesmo alegando que toda intenção é boa no fundo, unicamente por ser subjetiva e, segundo alguns, a subjetividade ter sempre razão.”

“É equivocadamente que Pascal atribui aos jesuítas a ideia de que ‘o fim santifica os meios’ — citamos a versão que se tornou proverbial —, pois, de fato, eles tinham tido o cuidado de especificar: com a condição de que os meios não sejam intrinsecamente viciosos; se esta reserva não fosse suficiente, não haveria legítima defesa possível.”

Os critérios da tradição são sempre valores espirituais

O Grande Buddha de Kamakura, Japão.

“Eu acabo de tomar conhecimento da lista de suas publicações e constato que elas são em sua maioria de espírito racista, fascista, nazista, portanto de forma nenhuma tradicionalista no sentido próprio e autêntico do termo.

O patriotismo natural é humilde e caridoso

O monastério de Pecherska Lavra, em Kyiv (Kiev), na Ucrânia. [Foto: Jean & Nathalie, Wikimedia Commons]

“Concretamente, a pátria é, não necessariamente um Estado, mas a terra, ou a paisagem, onde se nasceu, e o povo ou o grupo étnico ou cultural ao qual se pertence; não é senão natural que o homem ame sua ambiência de origem, assim como é natural, nas condições normais, que o homem ame seus pais ou que os esposos se amem reciprocamente e amem seus filhos; e não é menos natural que todo homem contribua, segundo sua função e seus meios, à defesa de seu país ou de seu povo quando eles são atacados.”

A importância da pureza da inteligência

The Spirituality and Symbology of the Mandala - Kashgar

A qualificação intelectual reside muito menos na capacidade — sempre relativa e frequentemente ilusória — de compreender determinadas concepções metafísicas do que na qualidade puramente contemplativa da inteligência; essa qualidade implica a ausência de elementos passionais, não no homem, mas em seu espírito **. A pureza da inteligência é infinitamente mais importante do que sua capacidade efetiva: “Bem-aventurados os que têm o coração puro”, disse Cristo, e não: “aqueles que são inteligentes”.

O “coração” significa o intelecto, e por extensão a essência individual, a tendência fundamental, do homem; nos dois sentidos, ele é o centro do ser humano.


Schuon, Perspectives Spirituelles et Faits Humains, 1989, p. 102.

** Nota do editor: esprit, em francês, significa aqui o “pensamento”.

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